segunda-feira, 16 de abril de 2012

De José Régio

Adeus.

Vai-te, que os meus braços te magoaram,
E o meu amor não beija!, arde e devora.
Foram-se as flores do meu jardim. Ficaram
Raizes enterradas, braços fora...

Vai-te! O luar é para os outros; e os afagos
São para os outros..., os que ensaiam serenatas,
Já a lua que nos lagos bóia pérolas e pratas
Não nasce para mim, que estou sem lagos.

Quando me nasce, é como um reluzir da treva,
Um riso da escuridão,
Que na minh'alma ecoa, e que ma leva
Por lonjuras de frio e solidão...

Vai-te, como vão todos; e contentes, de libertos
Do peso de eu lhes não querer trautear mentiras.
Como serias tu, flébil flor de olhos de safiras,
Que me acompanharias nos deserto

Vai-te! Não me supliques que te minta!
Beijo-te os pés pelo que me oferecias.
Mas teu amor, e tu, e eu, e quanto eu sinta,
Que somos nós mais que fantasias?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Muito obrigado.
"Uma palavra escrita é semelhante a uma pérola." (Johann Goethe)